Venho de antigas Eras.
Sou dos medievais e barrocos.
Tenho a teatralidade da dor,
o dom de transfigurar lágrimas em palavras.
Vivo o amor da entrega - e do martírio.
Em mim vive Santa Teresa d'Ávila.
Em mim arde Sor Juana Inés de la Cruz.
Mas também sou dos modernos.
Dos contemporâneos.
Habito a linguagem - seu fluxo, seu devir.
Carrego a alma de Bergson.
Dialogo com Breyner,
com Pizarnik,
com Akhmátova.
Poetas do feminino profundo.
Poetas da palavra como último refúgio do ser.
Venho de eras antigas.
Atravesso os tempos e os ventos.
Sou da linhagem das mulheres
que escrevem
o que é impossível
dizer em voz alta.
Faço o poema
que não pede permissão
para nascer.
É parido por dentro.
É minha alma,
escrita em verso,
nascido
de onde Maria vem.