É disso que quero:
a evocação do vago,
do intenso, poderoso,
o evocar dessa emoção,
plena de sentir -
como a música.
Que seja atmosfera, melancolia,
que tenha esse ar de tristeza doce,
de saudade indefinível,
de beleza passageira...
Quero amar a neblina,
o crepúsculo, as sombras,
os sons abafados e longínquos,
os sentimentos fugidios
mas tão, tão latentes.
Quero ser a folha caindo,
o nevoeiro se dissipando,
a chuva leve sobre o telhado de violinos,
o som dos sinos longínquos -
mas tão perto, tão dentro -
os rostos
que se perdem no passado,
a luz opaca da lua,
uma vida intensa e atormentada
pela ruína do não-escrever,
a poesia nascida do coração sofrido,
da delicadeza extrema
da alma de Verlaine, de José,
de Rilke, de Mallarmé...