Não sei gritar com elegância,
nem sangrar com lucidez.
Respiro com a alma em carne viva,
em busca dessa sabedoria milenar,
enquanto a dor -
essa dor - é profundamente
contemporânea.
Não posso mais suavizar palavras,
nem realçar o ritmo
desse meu salmo pagão...
Trago em mim esta fé sem templo,
essa coragem profunda e profética
de gritar as verdades de meus pra dentro.
Talvez grite sem coerência -
mas é assim que a alma se veste:
de contradições.
Um fogo voraz e ancestral,
um sopro de brisa e luz.
É assim que nasce esse lamento sagrado
de quem fala com o invisível e o impossível,
de quem grita para além da pele -
conversa com quem não pode ver -
de quem fala com a alma
do outro lado dessa janela
do tempo profundo.