Ó amor calado dos que vivem sós,
tu que não gritas, mas te fazes canto
no coração que guarda a tua voz,
em doce sombra e luminoso pranto.
Amor que arde em silêncios profundos,
que toca o céu com mãos de puro anseio,
e beija as estrelas, longes, vagabundos,
com olhos cheios de um divino anelo.
Tu não precisas gesto, nem palavra,
pois vives onde a alma se derrama,
nas madrugadas frias, onde lavra
o fogo brando de uma antiga chama.
És como a brisa, sutil e tão serena,
que acaricia sem jamais prender,
e faz do peito solitário a cena
onde o amor aprende a florescer.
Ó doce amor dos que amam calados,
nos astros deixam seus recados!