Tem dias, como hoje, ontem ou amanhã que as roldanas da vida parecem girar ao contrário e a claraboia do tempo tece de angústia e vazio as bainhas da alma. É quando a felicidade parece dispersa e vestígios daquele medo ancestral que afronta ainda teima em aflorar trazendo ansiedade e desolação para o cotidiano dia. Quando esse dia chega, é como se as inúmeras ferragens que nos sustentam entrassem por um sumidouro invisível acendendo todas as traves e fechaduras para a alma em busca de um sopro de céu. Sinaleiras se fecham para o céu e a vida parece nos dizer que só nos resta o foro das catástrofes de furacões e o vento sepulcral dos sonhos em ânsia de nos aniquilar. Então nossos olhos se cruzam no infinito de nossa janela do tempo profundo e a luz de amor irradiada desse encontro de estrelas e universos ilumina toda nossa alma. É quando, mesmo em meio ao sangrar das dores do passado, à desolação e medo, o gosto da felicidade invade nossos lábios que se abrem num sorriso tímido e acalorado de amor. Assim, o sabor do que ainda podemos ter invade nosso peito e o dia se ilumina com seu arco-íris de cor.