Maria
Prosa e Poesia
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Espiral da Vida

É um pensamento estranho esse - o de que precisamos estudar as coisas que já não mais existem, nem que seja para evitá-las. Como evitar o que já não está mais aí? O que ficou no tempo pretérito em nossa vida? Se as trago de volta para qualquer fim - pedagógico, emocional, terapêutico - eu as revivo. E, revividas, passam a existir. Talvez isso seja uma das bordas mais sensíveis da consciência: o paradoxo do passado que, ao ser pensado, se torna presente. Porque ao pensar, lembrar, refletir, sonhar ou temer... revivemos. Aquilo que já não é, torna a ser, ao menos dentro de nós. Então estamos sim diante de um paradoxo: ao tentar evitar o passado, damos a ele uma nova forma de presença. Evitamos o passado pensando nele, e ao pensá-lo, o fazemos presente. É um tipo de círculo que a consciência traça quando tenta controlar o incontrolável: o tempo. Essa contradição me habita. É como se, ao tentar seguir adiante, eu estivesse puxando pela mão aquilo que queria deixar para trás. Meu pensamento perambula por esses meandros, e por mais que tente esquecer, lembrar se torna inevitável. Talvez o maior paradoxo seja este: precisamos lembrar para não repetir, mas ao lembrar, revivemos aquilo que queríamos evitar. Como escrever sobre uma dor antiga apenas para superá-la, para não senti-la mais - mas no ato da escrita, ela se reabre, dói outra e mais uma vez. E aí me pergunto: o que fazer diante do que já não está mais aqui, mas insiste em estar dentro de nós? Quando estudamos guerras para evitá-las, reencenamos os horrores. Quando revemos os traumas para curá-los, revivemos suas dores. Quando buscamos no passado as lições para o presente, damos corpo ao que deveria ser sombra. Evitar o passado é, de alguma forma, recriá-lo. E recriá-lo pode ser, paradoxalmente, a única forma de atravessá-lo. Viver é estar diante dessas contradições. Talvez o tempo não seja uma linha, mas uma espiral. E o que julgamos vencido, retorna - não como repetição exata, mas como eco, como sinal, como memória que ainda vive, pulsa, bate forte em nós...

Maria
Enviado por Maria em 10/07/2025
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