Pasma diante do infortúnio que parece se abater sobre a vida que gira escondida dos muros da cidade ao nosso redor, chorei uma lágrima de dor, ao ouvir um menino de apenas doze anos dizer:

- " Uso drogas desde os seis anos, não tinha pai e nem mãe, morava na rua, e acho que foram eles que faltaram em minha vida. Acho que faltou uma mãe para me ensinar".

Ah, que minha alma se espremeu, se contorceu em meu interior, diante da tragédia que foi essa vida durante seis longos anos no mundo da droga, do crime, da morte, da dor.

Faltou uma mãe!
- "Faltou uma mãe para me ensinar".

Meu Deus, pensei, como pode que ainda faltem mães neste País?
O que foi feito da mãe desse menino?
Quem a tirou dele?
A morte?
A pobreza?
A riqueza?
O descaso?
A droga?

Onde está a mãe desse garoto, que penou seis anos numa vida miserável e degradante, vendendo seu próprio corpo para ter o dinheiro para comprar o veneno que lhe mataria?

Onde estão as famílias?
O que estamos fazendo de nossas famílias, que nossos filhos estão sendo criados na rua, soltos ao vento e dispostos a toda sorte de maldade que o ser humano é capaz de conceber?

O que estamos fazendo de nosso País, de nossa gente, de nosso povo, de nossas famílias?

Olhamos o mundo girar lá fora, através das câmeras que instalamos sobre os muros, através das janelas fumês de nossos prédios?
Contemplamos inertes, a miséria do outro lado do portão, escondida em guetos, em vilas onde jamais colocaremos os pés?

Ou temos ainda vergonha na cara para saírmos nas ruas, arregaçarmos as mangas da camisa e lutarmos por um mundo melhor?

Fica essa pergunta:
- Que faço eu?